A CGU (Controladoria-Geral da União) abriu um edital para a compra de cem notebooks no valor estimado de R$ 6.777,46 por unidade, o que totaliza uma compra de R$ 677.746,00. O edital tem pregão eletrônico (apresentação de propostas) previsto para o dia 8 de maio.
Segundo especialista da USP ouvido pela Folha Online, o valor é exorbitante. A reportagem também pesquisou produtos com configurações semelhantes na internet: todos têm preço menor.
A CGU, por meio de sua assessoria de imprensa, responde que o valor "é o preço unitário máximo estimado para aquisição dos equipamentos objeto da licitação".
Dentre as configurações mínimas exigidas no computador da CGU, figuram o sistema operacional Windows Vista Business, 2 Gbytes de memória RAM (expansíveis para, no mínimo, 4 Gbytes) com velocidade mínima de 667 MHz, disco rígido de 160 GB, leitores e gravadores de CD e DVD, mouse ótico e conexão Wi-Fi. Há também a solicitação de uma placa de vídeo 3D, cujo custo estimado é R$ 1.499,00. A licitação não inclui o leitor Blu-ray e também exclui o custo de pacotes de segurança antivírus. A garantia exigida pelo governo sobre os notebooks licitados é de três anos. (veja mais características no documento).
No site Americanas, é possível encontrar configurações parecidas (ou superiores) com preço menor. O notebook HP dv4-1150br, com Windows Vista Business, 3 Gbytes de memória RAM, Wi-Fi, Bluetooth, conexão 3G integrada e com garantia estendida de três anos é encontrado por R$ 4.398,85. Adicionado o valor da placa de vídeo 3D, o equipamento sai por R$ 5.897.
Outro modelo parecido é o LG R410-3003, com Windows Vista Business, memória RAM de 2 Gbytes com 800MHz, 160 Gbytes de disco rígido, Wi-Fi e garantia estendida de três anos custa R$ 3.348. Somado à placa de vídeo 3D, o valor do equipamento totaliza R$ 4.847.
No site da Dell, um computador da linha Inspiron 15 com Windows Vista Ultimate (considerada pela empresa de softwares como a versão mais completa do sistema operacional), 3 Gbytes de memória RAM, 250 Gbytes de disco rígido, Wi-fi, Bluetooth, antivírus McAffee por um período de 30 dias, gravador de CD/DVD e três anos de garantia tem preço total de R$ 3.319. O total, contabilizado com a placa de vídeo 3D, é R$ 4.818.
Quando o notebook com configuração semelhante à pedida pelo governo é calculado com o sistema operacional Linux (a licitação exige que a máquina tenha compatibilidade com essa plataforma, embora pague pelo Windows), o valor cai para R$ 2.364,00, calculados a partir de dois equipamentos do fabricante Positivo --aqui e aqui. Somado à placa de vídeo 3D, chega a R$ 3.863.
Os equipamentos analisados pela reportagem, cada qual com o custo da placa de vídeo 3D embutido, contabilizam uma média de R$ 4.856,25. Gamers?
Segundo um especialista da USP consultado pela Folha Online, a placa de vídeo 3D costuma ser usada por "gamers", ou seja, jovens que jogam pelo computador e demandam recursos gráficos avançados. Recentemente, ela foi difundida a projetos CAD (voltados a profissionais de engenharia, arquitetura e design), chegando a ser usada, ocasionalmente, em trabalhos de vídeo.
"Para usar as aplicações corporativas, que você imagina que um auditor vá usar, não precisa de uma placa gráfica 3D. Pode ser que haja uma aplicação que justifique. Para auditoria financeira, não precisa. Para auditoria fiscal, computador com hardware 3D é muito esquisito", observa o professor Marcelo Zuffo, especialista em meios eletrônicos da USP.
"O MEC [Ministério da Educação] compra laptops parecidos para professores a R$ 1,7 mil. Uma máquina superboa. Não adianta comprar algo muito sofisticado, laptop tem um ciclo de vida muito curto." O professor diz ainda que o valor estimado pela CGU é "alto, semelhante ao de um Macbook Air", da Apple.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a CGU informa que "a placa [3D] com esta configuração é o padrão constante da última especificação elaborada pelo Ministério do Planejamento como referência para aquisições da espécie na administração pública".
E acrescenta que, "neste modelo, a referida placa é integrada à placa mãe do equipamento, razão pela qual não há que se falar em preço unitário do dispositivo, já que ele não será adquirido separadamente. O preço da placa, qualquer que seja ele, já está embutido no preço total do equipamento".
A CGU informa ainda que os "equipamentos serão utilizados por servidores da Controladoria-Geral da União, responsáveis pela realização de trabalhos de auditorias e fiscalizações, em todo o Brasil".
Os cálculos dos valores, de acordo com a CGU, foram realizados por "consultas em sites da internet" e "banco de dados da administração pública, como sistemas de registro de preços, de contratos, de licitações, etc".
Fonte:http://www1.folha.uol.com.br
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